Uma oportunidade de fundar um lugar que se revele como uma extensão da condição urbana na qual se insere, capaz de explorar tanto seus aspectos morfológicos bem como os culturais. A concepção do projeto para as Casas AV se fundamenta através desta premissa e da busca por valorizar o espaço público através de um cometimento arquitetônico preocupado com o sentido coletivo possível de ser manifestado a partir da propriedade privada. O vazio originado pela composição espacial equilibrada dos elementos construídos proporciona o surgimento de um lugar de encontro.
Localizado numa nova área urbana dos arredores da cidade de Avaré, no interior do Estado de São Paulo, o terreno possui dimensões significativamente superiores aos lotes padrões que configuram o contexto existente, o que lhe atribui uma possível singularidade de ocupação, explorada desde o início pelo projeto. Constituído, em sua maioria, por residências unifamiliares, o bairro de baixa densidade preserva a atmosfera e os aspectos tradicionais de relação com a urbanidade e o espaço coletivo das pequenas cidades, evidenciada ainda mais pela praça local próxima ao terreno. Ainda que limitadas por seus muros e gradis, suas construções sempre se abrem para a rua através de varandas ou espaços a partir dos quais o usuário pode interagir com o contexto envolvente.
Contrariando a ocupação preconcebida de lotes paralelos independentes sem nenhuma interação entre si ou com o passeio público, a implantação das Casas AV explora a possibilidade de se agrupar o conjunto de oito unidades habitacionais em dois grupos cuja posição no terreno delimita um espaço intermediário que se tornará o centro do projeto. Contemplando a necessidade do aproveitamento mais eficiente possível de seu potencial construtivo e preservando as áreas internas de cada uma das unidades previstas no programa, a composição dos limites construídos e não construídos configura o pátio central coletivo, de grandes proporções para um terreno destas dimensões.
Voltadas para o pátio coletivo, as unidades contemplam, desde suas varandas, um espaço que trás a vizinhança para o seu interior, transpondo os limites que poderiam caracterizar este conjunto residencial como propriedades fragmentadas. A área central se destina ao potencial de sua flexibilidade como espaço para, atividades comuns, reuniões, automóveis, etc.
Concebidas segundo uma estruturação compacta, as unidades são articuladas duas a duas a partir de núcleos que abrigam as estruturas principais e todas as instalações da construção, além das circulações verticais. O entrelaçamento das atividades destes núcleos é o que possibilita que as unidades possam aproveitar as dimensões do lote da maneira mais eficiente. Suas modulações possibilitam o uso de estruturas convencionais de concreto armado e lajes pré-fabricadas, que tornam a construção mais rápida e econômica. Os fechamentos de alvenaria, placas cimentícias, policarbonato, telhas metálicas e madeira correspondem às condições construtivas as quais são expostas, fazendo uso da diversidade de materiais para uma composição de tecnologias tradicionais e contemporâneas.
As condições climáticas locais conduziram o projeto ao uso de elementos construtivos que pudesse amenizar a incidência de calor, preservando o conforto interno das unidades habitacionais. A cobertura em duas camadas e as venezianas presentes na parte superior nos caixilhos permitem a ventilação constante através do forro do pavimento superior onde a insolação é mais acentuada. O pavimento inferior, pátios e varandas são protegidos pelos generosos beirais da cobertura.
Assim, o projeto reflete a cidade, definindo a predominância do espaço público e urbano através da coletividade que qualifica o entorno como uma paisagem definida pela pausa do vazio. Um conjunto arquitetônico modesto, mas representativo da essência do espaço que se configura no tempo como oportunidade social: a arquitetura como geradora de cidade e do encontro de seus habitantes.
Local: Avaré, SP
Ano: 2011
Ano Construção: 2011-2013
Área do Terreno: 640m²
Área do Projeto: 612m²
Autores:
Daniel Corsi
Dani Hirano
Colaboradores:
Marina Nunes, Elis Cristina Morales, Henrique te Winkel, Anna Juni, André Ko, Caroline Jun
Fotos:
Leonardo Finotti (2 a 23)
Nelson Kon (24 a 50)
Maquete:
Anna Juni
Prêmios:
Finalista - 1º Prêmio Akzonobel de Arquitetura - Ministério da Cultura - Instituto Tomie Ohtake - Akzonobel (2014)
Vencedor - Categoria Arquitetura Residencial - Prêmio W Award - Ministério da Cultura e Instituto São Paulo de Arte e Cultura (2014)
Vencedor - Categoria Condomínios Residenciais - Prêmio O Melhor da Arquitetura 2013 - Revista Arquitetura & Construção | Editora Abril (2013)
Exposições:
La Bienalle di Venezia – 14ª. Mostra Internazionale di Architettura. Exposição “Brasil 1914-2014: modernidade como tradição” Pavilhão do Brasil (2014)
Nove Novos: Emerging Architects From Brazil - CIVA (Centre International pour la Ville l'Architecture et le Paysage Bruxelles) - Hors les Murs Espace Architecture | Bruxelas (2014)
1º Prêmio Akzonobel de Arquitetura - Ministério da Cultura - Instituto Tomie Ohtake - Akzonobel | Projetos Finalistas (2014)
DAM | Deutsches Architekturmuseum | Frankfurt. Mostra de projetos na Exposição “Nove Novos - Neun Neue: Emerging Architects From Brazil" (2013)