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Unidades Habitacionais Coletivas em Sobradinho


Sendo um direito fundamental de qualquer cidadão, é imprescindível que o Habitar seja tratado como um sistema complexo de relações que devem superar em muito a pura função de morar. Uma proposição arquitetônica voltada à Habitação Social deve ser conduzida por valores que priorizem, acima de tudo, as relações humanas possíveis de se constituir a partir de sua realização e, diante da diversidade cultural e social, propiciar uma condição de bem-estar individual e coletivo. Nossa proposta para as Unidades Habitacionais Coletivas de Sobradinho se estabelece a partir de um sistema coerente com as condições apresentadas, buscando a clareza e a precisão dos esforços necessários para se concretizar como construção física da cidade e como construção social da vida de seus habitantes.

Premissas Socioeconômicas e Culturais 

Para a sua viabilização como política, empreendimento e patrimônio dos habitantes foram consideradas todas as demandas envolvidas: as rendas familiares, a legislação e a economicidade da obra, garantindo sempre a qualidade da arquitetura apresentada em todos os seus aspectos, inclusive naqueles responsáveis pela identidade entre os usuários e o lugar que habitam.

Legislação  

As exigências legais do Programa Minha Casa Minha Vida, Plano Diretor, Normas e Códigos foram seguidas com rigor e como critérios de potencialização do projeto e não restrições. A sua precisa compreensão e aplicação foi decisiva para a concepção de uma proposta factível e favorecedora dos usuários. O aproveitamento máximo do potencial construtivo foi alcançado com um grande número de unidades (82 unidades para a QD02-CJB7-PROJ A), preservando as dimensões e áreas necessárias para o conforto de seus espaços. Uma densidade construída não de modo especulativo, mas como potência de convivência e bem-estar, sem qualquer prejuízo para a qualidade de vida de seus habitantes.

Acessibilidade 

A Acessibilidade Universal é um critério obrigatório para um edifício que busca sua máxima integridade. Tratando-se de um programa habitacional, o caráter inclusivo da proposta deve ser ainda mais pleno. O projeto permite a acessibilidade total de suas áreas comuns e privadas, contendo as unidades exigidas por norma e sendo todas as demais adaptáveis. Assim, o edifício todo pode ser vivenciado sem nenhuma segregação ou restrição. Do mesmo modo, é garantida a segurança das distintas faixas etárias.

Sobradinho  

As características do contexto da cidade, precisamente da Quadra 02, deram lugar a uma concepção arquitetônica singular que cuidou em corresponder à amplitude do território, à presença da paisagem, à topografia, às qualidades de aeração e iluminação e à presença de um solo urbano fundamentalmente público. Assim, a cidade é parte da definição da arquitetura, pensada como uma sucessão de sólidos e vazios. O térreo foi concebido como uma sombra pública para o abrigo e o encontro. A autonomia do volume superior permite uma ocupação otimizada de unidades voltadas para diferentes orientações e de espaços coletivos que configuram distintas escalas de convivência: circulações, acessos, terraços e uma praça elevada comum.

Sistema e Escalas  

A arquitetura do edifício se define por elementos de diferentes escalas organizados segundo uma rigorosa coordenação modular: as unidades de habitação, os módulos parciais de agrupamento de unidades e os pavimentos completos. Somando-os às circulações e aos espaços coletivos, são originados agrupamentos que tornam cada metade dos pavimentos em pequenas comunidades, qualificando a densidade do conjunto de um equilíbrio necessário para o convívio, o vínculo e a identidade dos usuários com o seu lugar de habitar.

Implantações  

Pensar um projeto adaptável para cinco terrenos distintos estabelece importantes desafios arquitetônicos, urbanísticos e técnicos. A estrutura conceitual da proposta com componentes que permitam distintas configurações de ocupação, densidade e fluxos, faz com que não apenas seja versátil para os lotes especificados, mas também para um potencial ainda maior de aplicação. Considerando cada situação, podem ser adaptáveis: a quantidade de unidades, a escolha das diferentes tipologias, o posicionamento das circulações verticais e a quantidade e localização das áreas coletivas. Um sistema versátil para atender diferentes especificidades tipológicas, econômicas, locais, além das topográficas e climáticas.

Identidade

A construção do vínculo dos habitantes com seu lugar é parte basal dessa proposta. Para isso, além das unidades habitacionais em si mesmas, o espaço existente entre elas se torna igualmente importante. Nele, as relações urbanas invadem o edifício com seus fluxos, permanências, áreas comuns e praças, possibilitando a vida cotidiana para além do espaço privado. Uma oportunidade social onde a arquitetura se coloca como geradora de cidadania e do bem-estar. Além disso, o pertencimento dos usuários à sua morada se potencializa por meio de uma construção de linguagem equilibrada, econômica e versátil realizada com materiais convencionais, mas aplicados segundo uma harmonia e ordem extremamente respeitosas.

Programa

O projeto contempla todas as exigências do Programa de Necessidades por meio da concepção de diferentes tipologias e da proposição coerente das áreas coletivas, sempre respeitando as áreas definidas pelas normas e legislações. Para a versatilidade de sua aplicação foram concebidas unidades de 2 e 3 dormitórios, podendo variar em quantidades conforme a necessidade. Do mesmo modo, essas unidades possuem variações tipológicas que enriquecem a singularidade dos espaços e das ocupações por diferentes famílias, evitando a reprodução excessiva de módulos idênticos.

Espaços Coletivos e Circulações

A variedade de espaços para convívio criados no edifício o configuram como um lugar contínuo e fluido. As comunidades internas desfrutam de sua autonomia e se unem nos espaços maiores do pavimento público dos pilotis e arredores, nas circulações verticais e horizontais ou nas praças elevadas de convivência. Lugares dedicados às identidades compartilhadas e de apropriação dos moradores que originam uma paisagem interior própria onde todos os seus espaços podem ser usufruídos como lugares para o lazer. As circulações internas do edifício se configuram como espaços compactos de convergência com bancos, jardins e aberturas que se contrapõe aos corredores enclausurados recorrentes em projetos dessa categoria.

Unidades e Tipologias

Definidas pelas configurações de 2 ou 3 dormitórios, foram propostas duas variações de cada uma destas tipologias em unidades flexíveis, adaptáveis e capazes de acomodar diferentes tipos de famílias. Além disso, a arquitetura prevê que cada um se aproprie e tenha a unidade como suporte de uma caracterização doméstica pessoal. Os parâmetros espaciais mínimos exigidos originaram uma combinação complexa de unidades para garantir sua viabilidade e principalmente o conforto dos habitantes, com uma setorização clara de áreas comuns, íntimas e de serviços que permite adaptações do layout básico proposto. Os acessos a estas pensados como pequenos pátios com bancos e jardins, o posicionamento versátil do mobiliário e as aberturas adequadas, enriquecem as possibilidades de apropriação e interação por parte dos moradores.

Fachadas

As fachadas das unidades são pensadas como elementos versáteis para o conforto dos interiores e para a construção de suas identidades. Respeitando os limites de aberturas, as janelas são combinadas de modo a proporcionar um ótimo conforto de ventilação e iluminação naturais do qual também devem usufruir as unidades de habitação social, incluindo o controle de luz e incidência solar nos dormitórios por meio de venezianas-brises leves de alumínio. São essas mesmas aberturas que, pensadas como elementos a espera de cada morador, podem ser utilizados para identificar o seu lugar dentro do conjunto maior do edifício e receberem a expressão das inúmeras personalidades que o habitam. Logo, alcançamos um conjunto arquitetônico que não se expressa com rigidez nem com a artificialidade de composições cromáticas sem significado. Neste caso, são os habitantes os geradores da identidade final do edifício que se apresenta de modo neutro e com suporte para essa manifestação espontânea de cores e texturas. Como elemento secundário, em frente a cada abertura dos estares das unidades, são propostos suportes para pequenas vegetações/cultivos ou vasos, trazendo para os interiores a presença do elemento natural, superando a aridez e ajudando a climatizar e umedecer, além de favorecer o sombreamento. Para que também seja possível constituir uma identidade clara entre os cinco projetos, propomos que nas áreas comuns de cada um deles, além de configurarem diferentes formas de espaços e vazios, seja adotada uma tonalidade singular, mas igualmente neutra e que remeta à própria paisagem de tons ocres do cerrado.

Eficiência e Conforto

A habitabilidade dos ambientes deve ter absoluta prioridade. O edifício como um todo é pensado de modo a minimizar o calor e potencializar a aeração por meio de soluções passivas de conforto térmico que propiciem a todas as unidades os meios adequados para o controle básico de temperatura, luz e ventilação. De modo integrado e compatível, foram propostas as seguintes soluções técnicas: Ventilação (com uma sobreposição de pavimentos ‘porosos’, o edifício possui uma grande quantidade de aberturas e frestas de diferentes escalas que permitem a ventilação natural horizontal e vertical. Nas unidades, o mesmo critério se repete com um sistema de ventilação cruzada pelas aberturas da fachada e das áreas de serviço). Fachadas (proteções indispensáveis contra insolação excessiva, suas superfícies são construídas com blocos vazados que aumentam a eficiência térmica do edifício. Além disso, são protegidas e sombreadas através do recuo dos caixilhos resultando em beirais de proteção solar, do uso de superfícies de alvenaria nas salas e de venezianas nos dormitórios. Está previsto o uso de caixilhos de alumínio, vidros simples e janelas de correr ou basculantes); Terraços e Circulações (Com proporções generosas, garantem boa climatização e contato constante com as áreas externas); Coberturas (Está previsto o uso de telhas termoacústicas, adequadas pela leveza e eficiência térmica, além da possível captação de águas pluviais para reuso como água cinza de irrigação dos vasos sanitários e áreas externas); Materiais (uso daqueles de origem reciclada ou certificada).

Construção e Instalações 

Considerando os parâmetros econômicos da construção, a racionalidade é um aspecto primário do projeto presente no uso de materiais e sistemas construtivos inteligentes, visando agilidade, durabilidade, baixa manutenção e segurança. Além disso, a industrialização dos elementos e a rapidez na construção estão presentes para assegurar a viabilidade do projeto. Uma malha estruturadora clara e eficiente define a estrutura de pilares e vigas de concreto armado, lajes armadas pré-fabricadas e paredes divisórias de blocos de concreto ou cerâmico. Organizadas em prumadas verticais ininterruptas, as instalações prediais serão sempre facilmente acessadas para manutenção sem interferir na flexibilidade ou adaptação das unidades. Caso desejado, grande parte do projeto pode ser adaptado para alvenaria estrutural.


Concurso Público Nacional de Estudo Preliminar de Arquitetura para Unidades Habitacionais Coletivas na Região Administrativa Sobradinho – Ra V.

Local: Sobradinho, DF
Ano: 2016
Área dos Terrenos: 5 lotes de 900m²
Área do Projeto: 8.387,62m²

Autores:
Daniel Corsi
Dani Hirano
André Sauaia

Colaboradores:
Eduardo Dugaich, Gabriela Meyer Torres, Julia Lazcano


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