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Museu do Meio Ambiente


A natureza do lugar e o caráter da instituição presente se definem como condições absolutas: uma dualidade onde intervenção e paisagem se amalgamam para engendrar um novo acontecimento. Revela-se determinante a síntese entre a natureza do Museu e a sua presença como fato no território. Uma apologia à paisagem, revelando a relação entre ser humano e natureza, onde a centralidade reside não na arquitetura como objeto construído, mas no que caracteriza o Museu como atitude e reverência à possibilidade humana de participar do meio ambiente que a define como exemplar deste e que, também, a constitui. Não se configura tampouco uma metáfora ou simulação do natural. Configura-se um instante de espetáculo dessa relação.

Partido / Implantação

Considerando a importância do lugar destinado às intervenções propostas, as inserções dos novos edifícios e da concepção paisagística são pensadas para que cada elemento tenha uma composição que valorize e enfatize sempre a presença da massa vegetal e da memória cultural e histórica do Jardim Botânico, além da expressão do conteúdo do próprio Museu. A implantação dos edifícios priorizou a articulação dos espaços interior/exterior e, através dessa continuidade espacial, valorizar o meio natural circundante, e vice-versa. Os elementos propostos são definidos pela permeabilidade visual e física, no que se refere à inserção equilibrada em meio às condições existentes e à materialidade que os constitui. Buscando elementos que venham fazer parte da memória coletiva do cidadão, onde a arquitetura funciona como elemento didático, de integração e diálogo com os usuários e o conteúdo abrigado. Percursos, sensações, impressões que possam oferecer uma experiência consciente da importância das questões socioambientais reveladas a partir da própria arquitetura e características do conjunto do Jardim Botânico, valorizando tanto os aspectos naturais com os do patrimônio histórico construído. Os edifícios do Museu do Meio Ambiente e da Administração/Auditório se implantam de maneira a intensificar as relações já existentes no lugar, mantendo a permeabilidade física e visual através dos novos elementos propostos: no Museu isso se dá através de seus acessos e de sua materialidade podendo integrar de maneira dinâmica o interior e exterior dos espaços ou refletir a paisagem se unindo à natureza existente. Da mesma maneira, a proposta paisagística estabelece uma fluidez de percursos e integra espaços de estar, atividades e exposições externos.

A implantação do edifício do Museu estabelece uma nova relação da instituição com o lugar, tendo seu acesso entre o novo e o antigo através de generosos espaços de acolhimento e convívio. Acessos independentes para grupos escolares criam novas possibilidades de percursos além de diferentes interações ao longo da visita. O espaço exterior adentra o Museu em seu foyer de acesso fazendo com que o usuário transite gradualmente para seu interior e esteja sempre em contato com o Jardim Botânico. A circulação do Museu acontece através do pavimento térreo como nível de conexão entre todos os espaços e atividades, entre elas as Exposições Permanente e Temporária. No nível da cobertura, à altura das copas das árvores, o visitante tem uma vista especial do Jardim Botânico. O segundo edifício se estabelece como integração entre os jardins dos espaços de chegada ao complexo com a Praça do Centro de Visitantes. A administração é um volume que se oculta do nível térreo localizando-se no nível superior, e o auditório no subsolo. Cria-se assim um espaço de transição e proteção e continuidade visual para a chegada ao edifício, bem como para todos que estejam circulando pelo lugar. O terraço na coberta também integra visualmente a Residência Pacheco Leão a Praça existente.

Museografia / Circulação

O museu se oferece como importante experiência didática da instituição em diversos aspectos, buscando a imprescindível interação entre arquitetura e a temática do conteúdo abrigado. Os diversos percursos possíveis vislumbram uma série de diferentes espacialidades e sensações: a transição entre espaço interno e externo do foyer de acesso, a conexão entre a expansão e o edifício histórico através de passarelas envolvidas com uma cortina d’água, os terraços da área de exposição permanente e a cobertura semiaberta. Espaços envolvidos por uma luminosidade controlada e dinâmica através dos fechamentos. Variações espaciais e de luminosidade que possibilitam sensações através da forma do edifício. Além disso, o projeto permite que o usuário esteja sempre visualmente em contato com o exterior. Os espaços expositivos – temporário e permanente – serão dotados de total flexibilidade, adaptabilidade e controle, possibilitando a autonomia de seus espaços segundo a demanda de cada tipo de exposição a ser abrigada. Através do controle de iluminação, ventilação, ar-condicionado e até mesmo de divisórias móveis, o Museu poderá fazer com que as salas assumam diferentes tamanhos e configurações, separadas ou unidas. A versatilidade dos espaços de exposições também é possível pelo próprio conceito estrutural do edifício que apresenta vãos livres ao longo de todo o espaço e também a diversidade de grandes e pequenas alturas em seu interior.

A instituição museu, nos moldes em que é concebida atualmente, deve deter uma proposta inclusiva. É imprescindível que apresente um circuito expográfico que permita o acesso do público de modo eficiente, representando na prática uma instituição aberta a todos os sentidos. O projeto permite a acessibilidade total, propiciando o acolhimento do público e minimizando as dificuldades com relação ao acesso do público especial. Atendendo às possíveis necessidades físicas, visuais, auditivas, entre outras, a proposta arquitetônica apresenta recursos e componentes que permitam o acesso de todos. Do mesmo modo, é garantida a segurança para públicos especiais e definidos a partir da faixa etária, sendo eles crianças ou grupos de terceira idade.

Estrutura / Execução

O sistema estrutural proposto contempla, primeiramente, todas as necessidades específicas do funcionamento do Museu, além de manifestar-se como exemplo didático de como é constituído o edifício, revelando sua estrutura e seus processos tecnológicos. Para isso, a estrutura principal modular se define em madeira proveniente de fontes manejadas e certificadas (eucalipto) com o uso de elementos metálicos para transições das peças estruturais. Isso permite uma grande flexibilidade para as exposições e ocupação dos vãos, além da diversidade de alturas para objetos de diferentes portes. A estrutura se revela como infraestrutura, abrigando forros técnicos, contendo instalações de energia, iluminação e hidráulica. As etapas de execução podem se desenvolver com soluções técnicas rápidas e econômicas, bem como os ajustes pontuais da topografia.

Sustentabilidade / Conforto Ambiental

Mostra-se possível que um edifício bem planejado em aspectos de conforto ambiental funcione sem a necessidade de utilização de ar-condicionado pela maior parte do ano, um dado muito significativo e que se torna uma diretriz determinante, no intento de realizar um projeto condizente com o clima local e caracterizado pela flexibilidade e controle de ventilação e iluminação, adaptáveis a inúmeras condições.

Instalações: as instalações prediais estão configuradas para fácil manutenção e acesso, fazendo uso do sistema estrutural proposto. Para água pluvial está previsto um sistema de coleta e reserva para reuso. As instalações Elétricas previstas visam reduzir ao máximo o consumo de energia considerando a possibilidade total de uso de luz natural durante o dia.

Ventilação e Ar condicionado: além de preparado para receber equipamentos de climatização artificial, o edifício foi projetado para funcionar sem eles através do uso de ventilação natural. Tirando partido do sistema estrutural e dos fechamentos, o nível térreo do museu é permanentemente ventilado e protegido pelos brises reguláveis da fachada e cobertura. O vidro interno nas áreas de exposição possibilita que estas sejam isoladas do exterior ou abertas para ventilação cruzada natural. Esse espaço semiexterior cria uma zona de transição, tanto espacial quanto térmica, amenizando os contrastes entre interior e exterior, podendo atender às exigências de ventilação variáveis ao longo do ano e de acordo com os usos internos.

Iluminação Natural e Artificial: as duas salas de exposição possuem total controle de iluminação natural: adaptável conforme a variação da incidência de luz e segundo o material exposto internamente. Devido à superfície das fachadas que filtra a luz natural, o uso da luz artificial durante o dia passa a ser complementar.

Fachadas: os brises verticais que envolvem o edifício desempenham uma proteção térmica indispensável nas condições climáticas às quais está exposto o museu, sendo os principais elementos que garantem as condições adequadas de conforto no interior do edifício além da flexibilidade de controle no inverno e verão. Os brises móveis auxiliares previstos entre os montantes verticais auxiliam ainda mais para a versatilidade desta proteção além de proporcionar o controle de luz nos espaços internos.

Eficiência Energética/Tecnologia: possuindo uma grande área de cobertura, o sistema de coleta de água pluvial leva a um reservatório para água de reuso, ideal para uma obra destas dimensões. A cobertura também equipada com painéis fotovoltaicos para geração de energia elétrica através da energia solar colabora para a autonomia energética do edifício além de servir como mais um elemento educativo do Museu fazendo parte do percurso do visitante. As condições de conforto para o usuário são garantidas através da climatização natural durante a maior parte do tempo pelo fato de que o edifício, em sua totalidade, pode ser controlado manualmente, gerando economia de energia tanto para ventilação (ar-condicionado usado somente quando necessário para compensar condições externas excepcionais ou para exposições específicas), bem como para iluminação. A implantação do projeto também reduz interferências no terreno e possibilita a preservação de todo o solo e vegetação. Além disso, com o uso predominante de materiais industrializados e processos construtivos dinâmicos, se minimiza o impacto ambiental e propicia a rapidez de execução da obra, não gerando desperdícios ou gastos imprevistos com manutenção de longo prazo.

Paisagismo

Sob o aspecto paisagístico um marco bastante presente, que percorreu a história desse espaço, é a presença da aleia das palmeiras imperiais. Essa palmácea é uma referência desse espaço. Na perspectiva de articular o existente ao novo, procurou-se marcar o acesso principal ao Museu do Meio ambiente, seguindo a guarita, com eixo simples de palmeiras imperiais, e não duplo, para manter certa hierarquia nos percursos internos ao parque. Esse plano vertical de palmeiras também cria um plano de fundo para a praça do chafariz, onde com mais duas palmeiras locadas no sentido oposto da praça do chafariz, delimitará um “hall” de acesso a área de projeto, sem interferência na massa vegetal existente. Para facilitar a penetração da água no subsolo foi adotado o uso de pisos semipermeáveis: cerâmica auto drenante (todos os principais acessos aos edifícios), paralelepípedo (área de estacionamentos dando continuidade ao piso existente) e pedrisco (caminhos periféricos).

A implantação dos edifícios priorizou a articulação dos espaços interior x exterior, e através dessa continuidade espacial, valorizar o meio natural circundante. Assim, os limites da Mata do Arboreto, foram definidos por uma linha d’água, que acompanhada por uma massa arbustiva densa, numa altura aproximada de um metro, (tipo Pandanus racemosus), reduzisse o acesso a áreas restritas, mas sem interrupção visual. Essa linha d’água, além de criar uma barreira, de acesso ao Arboreto, poderá dar continuidade, a um circuito de coleta de águas pluviais, que servirá para a manutenção de uma cisterna subterrânea, cujas águas serão utilizadas na manutenção das áreas externas e águas servidas das áreas de projeto. Para dar mais ênfase a massa vegetal existente, esta foi incorporada ao plano de projeto. Esse conceito pode ser observado, tanto na área da passarela do museu, onde o piso elevado permite que a vegetação permeie seus limites, integrando-o com a vegetação que viceja nesse entorno, como na área do grande hall do edifício onde se incorpora a arvore aí existente. O espelhamento da vegetação, nos planos de vidro de fechamento da fachada, também estabelece uma articulação criativa com o entorno imediato. No edifício da Administração e Auditório, preconiza a fluidez do espaço ao nível do térreo. Tanto a linha d’água como a vegetação rasteira, estes irão compor grandes planos horizontais, que determinam a composição do espaço.

Significado

Através de sua implantação e forma, além da matéria de que se constitui, o museu possibilita uma expressividade espacial e sensitiva da ideia de Meio Ambiente. Feito da mesma matéria que o envolve, utilizando materiais de origem orgânica, aliados a outros industrializados como o vidro e aço, o edifício se torna primeiramente, uma referência àquilo que o envolve, seja pela sua composição física ou pelo que dela se produz. As linhas verticais que se mesclam com a vegetação existente e a diversidade de efeitos proporcionados pelas placas móveis horizontais de vidro serigrafado, que conforme sua posição faz com que o museu tenha total nível de transparência e permeabilidade visual, transparecendo inclusive o edifício histórico através de suas fachadas abertas. Quando fechadas os mesmos refletem a paisagem circundante se estabelecendo como continuidade da vegetação. Um artefato pensado pelo ser humano, mas feito pela natureza. Um acontecimento que sintetiza em si função e forma: símbolo, protetor climático, estrutura, elemento didático. Uma fronteira viva que permita a troca entre interior e exterior, interagindo com as mudanças do entorno. Um Museu capaz de estimular o imaginário e o conhecimento do indivíduo, possibilitando que cada um crie sua história a partir de sua experiência, guardando em sua consciência a magnífica relação existente entre Ser Humano e Natureza.


Concurso Público Nacional de Arquitetura e Urbanização para a Expansão do Museu do Meio Ambiente - MuMA

Local: Rio de Janeiro, RJ
Ano: 2010
Área do Terreno: 8.600m²
Área do Projeto: 1.854m²

Autores:
Daniel Corsi
Dani Hirano
Laura Paes Barreto Pardo
Marcelo Nagai

Colaboradores:
Vera Cristina Osse (Consult. Paisagismo), André Sauaia


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