Diante de nós as Serras atlânticas e a escolha de um lugar para se fundar uma casa. Assim, para que se acolhesse da imensidão e do ermo de seu território, a repousamos sob a sombra das araucárias ali encontradas. Morada principal resguardada, observa sua vinícola, junto a qual dialoga com a paisagem, mas se fazendo por uma ação humana mais tênue que marca seu lugar sem nada construir acima do acentuado relevo: um volume ancorado ao chão e irrompendo da terra, como se sempre estivesse estado ali. Sua arquitetura se oculta ao alcançarmos a praça de chegada em sua cobertura que nos leva para o percurso de mistério que a adentra rumo à amplidão interna a ser desvelada. Ali, sua aparente solidez se revela como um grande e contínuo interior, esculpido a partir de inflexões e subtrações que originam espaços, aberturas e passagens sempre ligados ao exterior. Junto aos volumes que se amalgamam – o principal, dos hóspedes e do promontório de pedra – vemos a tradição da arquitetura colonial aparecer no grande alpendre com cobertura de madeira, nos painéis móveis de muxarabi e nas tantas varandas a partir das quais olhamos e sentimos os ventos, os aromas, as temperaturas e os sons da vida do lugar. Em sua matéria os planos horizontais são definidos pelo concreto e as paredes duplas pelo tijolo cerâmico que aquece a casa no frio e a refresca no calor. Por fim, desde sua pequena janela, a adega incrustada em seu profundo interior mira a vinícola e a beleza desse horizonte seminal preservado por uma discreta arquitetura.